terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Diana

Porque a vida ideal é aquela em que os fatos
apenas acontecem, sem explicações.


Enquanto via a paisagem da nova cidade, Diana pensava no quanto tudo aquilo era belo e novo para ela. Porque não via a sua cidade daquela forma, ora! se tudo lá também era tão bonito e interessante...Talvez porque a vista acostumara. Não, não quero que minha vista se acostume com esse novo lugar, quero que ele seja sempre novo para mim, novo e revitalizante. Mal sabia Diana que aquilo era impossível, nosso olhar sempre se acostuma, sempre cai na rotina...com tudo.

Mas como sua vista iria se acostumar com aquele lugar se a sua demora seria apenas de uma semana? O melhor de tudo, o melhor mesmo, era passar a semana ao lado daquela pessoa, aquela que lhe fazia voltar à adolescência, à fase do nervosismo, das mãos geladas, dos sonhos...E o lado ruim (claro, sempre tem um lado ruim) é que não seria só eles, haveria uma família, aliás, duas famílias, apesar de que no primeiro dia, eles estariam a sós na chácara.

Diana esperava ( ela realmente esperava) que algo acontecesse, que aquela pessoa lhe dissesse o que ela queria escutar, que aquela pessoa fizesse o que Diana esperava. Quando chegaram, os dois, Diana agiu normal, não sabia se era correspondida ou se aquela já sabia de seu amor, mas com o passar do tempo, ficou cada vez mais evidente, para Diana, que nada aconteceria ali, naquela enorme chácara. Porque aquela não fazia nada? Porque não se movia? Os parentes iriam chegar logo à noite e aquele ser não movia uma palha.

Logicamente, a esperança se foi, junto com a alegria da viagem, do lugar novo e...para sua surpresa, a vista acostumou, e tudo ficou indiferente ao olhar de Diana. O fim da tarde veio e Diana preferiu ir para o jardim, ler um livro. Começou o seu Ciranda de Pedra enquanto a noite ia caindo devagar. Nunca leu com tanta melancolia, com lágrima nos olhos, a fronte enrugada, sentia cada sensação que Lygia lhe descrevia, como se o livro fosse vivo e a fizesse sentir cada toque de Conrado. De repente, era noite.

Resolveu tomar um banho demorado, para tirar do rosto as marcas que as lágrimas deixaram. Procurou aquela pessoa pela casa, a viu dormindo, e se demorou um pouco a olhar aquela figura tão desejada.

No banho, deixou a água cair nas costas, no rosto, esperando que a corrente levasse sua melancolia ao ralo. Não deu certo. Diana saiu vestida e com uma toalha pequena enxugando os cabelos castanhos ( tinha a mania de deixar a toalha em cima da cabeça, distraidamente). À porta, estava aquele ser e ele, sem dizer nada, aproximou-se de Diana e lhe beijou os lábios, no último instante em que podiam ficar a sós, ele a surpreendeu.

Segundos depois, os parentes buzinaram ao portão da chácara.

- Chegaram.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

The End

“Tenho por princípios nunca fechar portas, mas como mantê-las abertas o tempo todo se em certos dias o vento quer derrubar tudo?” foi o que faltava à Sofia para lhe levar àquela conversa.

Ao chegar, deitou-se no divã, procurando uma posição aconchegante e escolhendo o primeiro assunto. Tantos pousavam em sua cabeça, ao mesmo tempo. Pensou em começar por sua família, mudou de idéia e foi tentar o amor, mudou novamente e enfim: Tanta história para contar, tantos pensamentos embaralhados e fundidos, mas, infelizmente, boca uma. Eu, por acaso, não poderia usar disfarces e fantasias, não é? Hm, tudo bem, só não sei se conseguirei, geralmente, tais máscaras encarnam sem minha permissão. Na realidade, não sei porque estou aqui. Todas as minhas sensações e medos não passam de doses demasiadamente grandes de sentimentalismo. Coisas que findam, tarde ou cedo, mas findam, ou passam momentaneamente. Afinal, tudo é tão breve, alegria, tristeza, bem-estar, sofrimento. O pior de tudo é saber disso, mas sempre se iludir com tais sentimentos, pensar que quando se casa, tudo vai ser eterna alegria; quando se tem nenéns rechonchudos, que eles serão eternos seres obedientes; quando se acaba um amor, pensamos que a dor é infinita. Para mim, só existe uma exceção: a saudade de um ente querido que se foi. Essa é a parte de mim que nunca some, não me deixa e me atormenta. Ela sucumbirá junto a mim? Não, não morrerá comigo: ela resistirá, estará presente na mente de meus parentes vivos e, quando eu também morrer, ela aumentará, com mais uma alma (a minha) para ser lembrada.